Ser mãe em pandemia
Ser mãe em pandemia é lixado. Eu ia escrever foda, mas nos últimos anos tenho-me moderado nas asneiras, eles aprenderam a repetir então a verdade é que já não é tão natural. Mas dizia, é foda. Ser mãe para mim nunca é fácil. Escrito isto, repenso e afinal redigo: ser mãe a maioria do tempo não é fácil. Há momentos, assim coisas breves, em que sou mãe sem mas, sem porquês, sem questões, sem tontices, sou mãe, ponto. E corre bem. A coisa vai. Eles crescem. Comem com os talheres. Dizem obrigado e por favor. Mas a maioria do tempo há aquela angústia permanente de saber se estou a fazer bem, se o resultado é bom, a dúvida que nasce com uma reação absurda, em cada luta. Eu era mãe nem há 4 anos quando a pandemia apareceu, por isso falo de um lugar com meia experiência, mas é isto, acho: ser mãe é fácil e às vezes difícil, mas é maioritariamente difícil quando não é fácil. Percebem?
Isto no normal. Na pandemia é sempre aquele emoji da cabeça a fritar. No confinamento é ser-se algo em modo catástrofe. É querer ser tudo bem para eles estarem bem, mas quando está tudo muito mal. É tentar desfilar com graciosidade num passarela de estilhaços de vidro. Não dá.
Sou tantas coisas e confinada sinto-me a ser má em tudo: mulher, mãe, profissional, amiga, pessoa. Uma pessoa acorda, existe e já está a fazer alguma merda mal, nem que seja estar em baixo porque como tenho tanto não posso, ânimo.