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Três antes dos Trinta

17
Abr19

O fim do capacete da Leonor

Ana Sousa Amorim

Falei aqui e aqui da displasia da anca e da plagiocefalia/braquicefalia da Leonor. Chega-me muita gente ao blogue por causa destes dois temas (os posts são os mais lidos do blogue) e se até agora não me apetecia revisitar o tema porque senti que se terminou é deixá-lo terminado, atrás das costas, reponderei porque achar que pode ajudar muita gente que anda à procura de ler tudo o que consegue sobre isto (e também me facilita para responder a muitos que me perguntam e que não quero deixar sem resposta).

Como referi no post,optámos por colocar o capacete com a Dra. Paula Rodeia no Hospital Lusíadas emLisboa em Julho de 2018 com previsão de tratamento de 4 meses. A Leonor acaboudepois por tirar o capacete em final de Novembro, sendo que tivemos apenas aconsulta de alta em Dezembro.

O início da adaptação foi complicado, mas como três semanas antes tínhamos feito a adaptação ao arnês que foi muito mais dura, olhando para trás noto que nem demos importância ao capacete. Muitos dizem que nos custa mais a nós que a eles e francamente sempre me irritou esta teoria porque ela suava em bica e tinha um ar desesperado muitas das vezes em que lhe tirava o arnês e o capacete. Na verdade, a simultaneidade dos dois tratamentos não ajudou em nada: o arnês obrigava a utilizar uns collants cortados nas pernas o que lhe traziam muito calor e a impediam de suar pelas pernas. Quando colocou o capacete custou-lhe bastante regular esta questão do calor. A Dra. Paula indicou-nos na altura que muitos bebés suavam muito dos pés como compensação daquilo que não podiam expelir pela cabeça e, na verdade, a Leonor ficou privada deste método de autorregulação porque estava sempre com o arnês e os ditos collants o que pode não ter ajudado na adaptação do termostato.

Nós fomosextremamente rigorosos com o tempo de colocação dos aparelhos. Queríamos portudo ter muito sucesso em ambas as condições pelo que nunca vacilámos nashoras, nunca deixámos de pôr o capacete à noite (mesmo implicando não terdescanso, o que sucedeu muitas vezes). Um mês depois da colocação a Leonordesenvolveu um fungo na cabeça (normal com a utilização do capacete,proporcionado pela humidade e calor) e tivemos de retirar o capacete aí unsquatro dias. Pouco depois, voltou a acontecer. Estas questões atrasaram otratamento e também a constatação de mais resultados (que até então tinham sidonotórios).

Em Setembro, aLeonor deixou de usar o arnês e nós deixámos de contar o tempo para tirar ocapacete para não nos desiludirmos mais (pensámos que íamos tirar o arnês umpouco mais cedo do que depois acabou por ser e a semana final custou-nosimenso, a Leonor começou a ganhar muita habilidade em retirá-lo).

Estes últimos meses foram difíceis porque depois de tirar o arnês a miúda quis recuperar o tempo perdido em termos de movimentos e começou a tentar sentar-se, gatinhar, etc. e  via-se que não se conseguia equilibrar decentemente por causa do peso do capacete. Paralelamente, os resultados já eram muito visíveis e a Leonor começava a ficar com muito cabelo o que aumentava a comichão e calor e o momento em que lhe púnhamos o capacete era cada vez mais difícil porque ela lutava contra aquilo. Ela ficou doente várias vezes em Outubro e fez febre pelo que lho tirámos várias vezes (não se pode colocar o capacete quando os bebés têm febre). Cada vez que tínhamos de recomeçar era horrível. Nesta altura, já estava desmotivada. Quinze dias antes da consulta que sabíamos que ia ser a final, eu sentia-me esgotada, sem forças para aquilo. Lembro-me do Pedro chegar várias vezes a casa e perguntar-me porque é que ela não tinha o capacete e eu dizer que não aguentava mais. A verdade é que depois dela ficar de ela fazer mais um episódio de febre, já em meados de Novembro, não lhe voltei a colocar o capacete. No dia da consulta estava muito apreensiva, mas a Dra. Paula confirmou que o desvio estava corrigido (praticamente, ou seja, aquilo que era possível corrigir) e que, não obstante o atraso ao que inicialmente previsto para fazer face às dificuldades que falei, tínhamos chegado ao fim e a Leonor não ia usar nem mais um segundo aquela bodega. Nós dissemos-lhe a verdade, que nos últimos dez dias ela pouco o tinha utilizado e ela disse que tínhamos tido um bom instinto.

Quando saíamos de lávinha uns anos mais nova. Estava farta daquilo, de ver a miúda lutar mesescontra aquilo, contra o arnês, contra tudo. Estava também farta de ter sempreum termo de comparação no irmão gémeo que já gatinhava, já se mexia e até já sequeria pôr em pé e perceber que ela acumulava dificuldades pelas coisas todasporque passou.

Apesar do cansaçotodo, sentia-me (e sinto-me) zero arrependida. Não foi uma decisão fácil. Comoreferi no post anterior, a utilização de ortoses cranianas para a correção daplagiocefalia/braquicefalia não é um método de tratamento que reúna consenso nacomunidade médica. É um tratamento dispendioso. Por tudo isto, pensámos sedeveríamos ou não avançar. Li muito sobre o assunto e vi muita coisa em gruposde facebook sobre a matéria. Muitos há que são da opinião de que passa com otempo ou que a osteopatia é a solução. Perante a opção de deixar que o tempodissesse que não passava e ver que a osteopatia não resultava, preferimosavançar até porque tínhamos uma janela de tempo para o fazer. Não nosarrependemos.

Este sucesso donosso caso e não arrependimento não mancha qualquer outro percurso que outrostenham feito com sucesso, simplesmente é o nosso. Eu não posso aconselharninguém a avançar ou não com isto, a única coisa que me leva a escrever isto éque com o relato da nossa experiência alguém se identifique e se sintaminimamente «aconchegado» de se saber acompanhado.

Nunca tivemosexpetativas de que a Leonor ficasse com a cabeça completamente redonda como oirmão tem (o Pedro diz que o Duarte é uma Lua Cheia porque ele é uma bolaperfeita ;)), sabíamos que ela teria sempre um desvio, mas notámos francasdiferenças e pelo menos na face já não se nota (antes de colocar o capacete, aLeonor tinha o desvio visível na linha dos olhos).

Uma última nota parafalar do Seguro de Saúde: o nosso seguro de saúde não cobriu NADA da colocaçãodo capacete, foi inteiramente suportada por nós. O Seguro tinha era protocolorelativo às consultas (ficavam a 15€/consulta, sendo que o preço sem seguro erade 80€/consulta) e fomos, no total, a 9 consultas (excluindo a da colocação quenão é cobrada).

A todos os que estãoa passar por isto, força, eu sei que às vezes não ajuda nada, mas há muito piore isto ultrapassa-se com perseverança. Eu sei que em parte moldou o feitiodela, e a experiência com os dois tratamento afetou muito o padrão de sono, masjá passou. Algures no futuro, estes cinco meses não vão representar nada emtermos de tempo. Até a gravidez foi maior :)

Atodos os que me perguntaram se ela era deficiente, se tinha problemas e que meaconselharam a não lhe tirar fotos com capacete sem sequer me conhecerem delado nenhum: vão à merda. Aprendam a lidar com a diferença. Isto não é nada emesmo assim senti na pele as dificuldades da diferença porque é muito vistoso.Não imagino o que determinadas famílias passam. A minha vénia a todos.

15
Abr19

Instalove

Ana Sousa Amorim

Sabem quando vos dizem que namoram há dois dias e não sabem? Ou que ninguém sabe o que é amor como o dos não sei quantos? Ou que eles parecem mesmo apaixonados (porque vocês não?). Esqueçam isso. Todos sabem dos outros porque sabem de si e veem o mundo no outro então acham que sabem de todos. Conheço tantos inícios estranhos, meios difíceis e fins tontos que acho que ninguém tem receita para esta merda. Só sei que sou uma romântica contrariada, uma racional com queda para o amor, uma crente sem explicação na ideia de que há um ou uma para nós, naquela pessoa que chega e que nos diz sem falar "sabes, eu ficava bem a dormir na outra almofada até sempre". E na volta, ficava e fica. Os dias maus, mesmo que não os vejamos logo, chegam, não os neguemos. Há dias, mais que muitos para uns, nenhuns para outros e, diria eu, normais para os comuns, em que não há sempre nem há hoje. Só há chegas, hoje não, por mim ias, não batas a porta quando saíres, nem quero saber. Mas nunca chega, nem vás, fica, o que eu queria dizer mesmo é bate a porta, mas fica por dentro, só te sei aqui e só me sei contigo, mesmo que às vezes esteja longe. I mean, romantic, you know?

[foto com anos, tirada num dia sem eventos, daqueles que uma pessoa imagina que são facilmente esquecíveis, mas de que não me olvido: chegámos a casa, vimos um filme na sala, pedimos o jantar, e fomos para a cama ver uma série onde tirámos a selfie porque eu havia começado um desafio no insta de registar diariamente um momento feliz durante 100 dias. Na altura, completei o desafio com sucesso. Com ele multipliquei umas quantas vezes os 100 dias felizes desde então. #100happydays#ahappylife]

09
Abr19

Fomos ao Seminário Maior de Coimbra

Ana Sousa Amorim

[a convite do Grupo Gala que gere o espaço]

Aqui há umas semanas contactaram-me através do email daqui a convidar-me para fazer uma visita ao Seminário de Coimbra. Oi? O Seminário? Aquele edifício ao pé do João de Deus onde estudei? Mas visita-se? Abri a brochura e fiquei parva. Como é que eu não sabia disto? Convidavam-nos também a almoçar e nem pensei duas vezes: pois, sim senhora, vamos que isto de ir para fora cá dentro é coisa de que gostámos muitíssimo. Como bela coimbrinha que sou, assolou-me logo o típico «bem, é Coimbra, não há de ser nada de jeito». Olha, foi bem feita, levaram-me a melhor. É de jeito, é bem giro, recomendo muito.

Tem uma biblioteca linda, bem preservada, qual Bela e o Monstro.

Aprendi umas coisas bem giras e deslumbrei-me com a vista da varanda (que já conhecia porque estudei no Colégio Rainha Santa, mas acho que a paisagem vista do Seminário consegue ser ainda mais bonita porque é mais alta).

Fomos recebidos pela Maria a quem tenho de agradecer a simpatia e a conversa ótima durante o almoço. A Maria é venezuelana e trabalha para o Grupo Gala a fazer as visitas guiadas do Seminário e do Mosteiro de Santa Cruz e foi mais uma estrangeira a dar-me uma lição de amor à cidade — que se espera primeiro dos locais, mas vejo ainda muitos anticorpos para esta paixão.

Para quem quer saber:

  • há visitas diárias ao Seminário Maior de Coimbra de hora à hora de 2.ª a Sábado,
  • a visita tem o custo de 5 € por pessoa e 3 € grupos,
  • qualquer pessoa pode almoçar no Seminário desde que reserve no dia anterior (para grupos pedem mais antecedência) e custa 8 € tudo incluído ( água ou vinho, sopa, pão, prato principal do dia, fruta),
  • há missa (na igreja principal que é lindíssima) todos os domingos às 11h aberta a toda a gente,
  • o Salão de São Tomás tem capacidade até 200 pessoas e pode ser alugado para vários eventos (imagino lá bem uma festa de inverno).

Se quiserem saber mais podem sempre visitar o site do grupo aqui
https://www.grupogala.com.pt/seminario-maior/ .

A mim resta-me agradecer convite :)

08
Abr19

A definição de ser mãe

Ana Sousa Amorim

Oiço maisque muitas vezes muitas dizerem que ser mãe não as define. Eu percebo, andamostodas a fugir ao estereótipo das mães que são só mães, das mães helicóptero,que abafam e não deixam respirar que fugimos de nomes que nos reduzam. Eutambém já tive medo. Mas hoje estou em paz com o que sou e com a vala queexiste entre isso e o que achava que ia ser e digo-vos, não me termina, masdefine-me. Sou mãe. Não sou só mãe, até porque também sou namorada, filha eirmã. E amiga e mulher. E sou tradutora e jurista. E sou aficionada dehistórias: de as ler, ver, ouvir e escrever. Mas sou mãe e leio, vejo, ouço eescrevo de maneira diferente desde que nasci mãe deles e eles me nasceram.Diferente não é melhor, não sou mais que ninguém que não o seja, mas isto soueu, a soma das minhas partes e eles são parte de mim, daquelas que não têmdivórcio ou cataclismo que apague. E não me falem no futuro, não me digam queeles são do mundo e que se me deixar definir por eles quando me voarem não seiquem sou porque eles são do mundo, mas são obra minha e quando voarem eu voojunto e tenho sempre parte de mim aí espalhada pelo mundo, mesmo que seja aofundo da rua. A mãe deles não é só mãe, mas eu sou mãe e na discriminação daconta é inegável e não se tira do que sou. Não quero que me tomem só pelaparte, nunca quis, também não gostava quando só me diziam bonita e não meelogiavam a piada, mas não ignoro. Ser mãe define-me. Mãe sou, mãe serei.Quanto ao resto, às vezes não sei.

(sóporque rima, há pessoas que também vou ser para sempre)

01
Abr19

Roupa com história

Ana Sousa Amorim

É giro como a roupa tem história e como, claro, até dessas eu tenho umas malucas. Não vestia esta camisa há muito tempo, primeiro porque não me servia e depois porque costumava ficar da cor da dita só de me lembrar o que passei nela. Dois meses depois de o Gonçalo nascer eu — na altura ainda era advogada — tive um julgamento ao qual não pude faltar. Ele mamava, em exclusivo, e eu já tentara tirar leite, mas sem sucesso. Deixei-o com a minha irmã, não iria estar fora mais que 4 horas e dei-lhe de mamar mesmo antes de sair para que ele não tivesse fome na minha ausência. Ficou uma lata de leite para abrir caso ele largasse a chorar. E fui. Após as esperas e formalidades habituais, lá entrámos na sala de audiências e eu gelei: tinha-me esquecido da toga. Como é que eu me esqueci da puta da toga? E pior, como é que durante todo o tempo de espera antes de entrar em que passaram por mim vários advogados de toga eu não me lembrei? Que raio de cabeça era aquela que eu tinha? Pedi a palavra, expliquei o que se passara e a juíza pediu-me que não me preocupasse. Eu não tinha muita experiências em julgamentos, nunca tinha gostado dessa parte, e sabia que o que se tinha passado não tinha importância, mas isso não me impediu de ficar nervosa e irritada por não entender como tinha sido possível, dando demasiado valor a uma coisa sem importância. Prosseguimos, estávamos a ouvir as testemunhas, eu sempre remoer no porra-a-sério-que-me-esqueci-da-toga quando olho para os meus apontamentos e bato com os olhos nas duas ENORMES manchas de leite que tinha nesta linda camisa. Se até aí estava nervosa, naquele momento qualquer réstia de confiança que tinha abandonou o meu corpo. Depois lembrei-me: ele deve estar com fome. E tive saudades do meu filho que não via há no máximo duas horas e senti-me culpada por o ter deixado tão pequeno. Apeteceu-me chorar. Mas estava no meio de um julgamento com duas auréolas à volta das mamas de uma camisa vermelha quando devia estar de toga preta. Apeteceu-me rir. Disse todas as asneiras do mundo mentalmente, puxei o cabelo para a frente (que nada adiantou, porque usava-o curto na altura) e cruzei os braços ao nível do peito. Inquiri duas testemunhas de braços cruzados em suspensão no ar. Conseguem imaginar o ar de maluca? Até podem achar que dá ar de confiante, mas quando a pose braços cruzados é acompanhada de toda uma restante atitude de pessoa frágil o conjunto resulta só numa chanfrandice terrível. A seguir levantei-me e coloquei a minha pasta nos braços à frente do corpo e foi assim, a abraçar a pasta como se a minha vida dependesse disso, quase a fundir-me com a dita, que me despedi das magistradas, da funcionária, das testemunhas, foi assim que cumprimentei uma pessoa conhecida que encontrei à saída e foi assim que fugi para o carro. Quando cheguei a casa o miúdo já havia bebido um biberão de leite adaptado porque tinha tido fome. E eu senti-me mal porque na altura a amamentação em exlusivo tinha muita importância para mim, estava fixada de forma parva naquilo. Depois olhei bem para a minha figura e lembrei-me que tinha acabado de ser eleita por mim própria a miss t-shirt molhada da justiça e passou-me.

[não se ralem, não prejudiquei ninguém com os meus nervos puerpérios-profissionais, o processo era uma coisa simples e teve um desfecho normal]

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