Estado deste sítio
Prometi escrever mais no blogue e depois deixei-o definhar definitivamente.
É o estado das coisas, já nem adianta contrariar.
Escrevo mais por aqui:
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Prometi escrever mais no blogue e depois deixei-o definhar definitivamente.
É o estado das coisas, já nem adianta contrariar.
Escrevo mais por aqui:
Ser mãe em pandemia é lixado. Eu ia escrever foda, mas nos últimos anos tenho-me moderado nas asneiras, eles aprenderam a repetir então a verdade é que já não é tão natural. Mas dizia, é foda. Ser mãe para mim nunca é fácil. Escrito isto, repenso e afinal redigo: ser mãe a maioria do tempo não é fácil. Há momentos, assim coisas breves, em que sou mãe sem mas, sem porquês, sem questões, sem tontices, sou mãe, ponto. E corre bem. A coisa vai. Eles crescem. Comem com os talheres. Dizem obrigado e por favor. Mas a maioria do tempo há aquela angústia permanente de saber se estou a fazer bem, se o resultado é bom, a dúvida que nasce com uma reação absurda, em cada luta. Eu era mãe nem há 4 anos quando a pandemia apareceu, por isso falo de um lugar com meia experiência, mas é isto, acho: ser mãe é fácil e às vezes difícil, mas é maioritariamente difícil quando não é fácil. Percebem?
Isto no normal. Na pandemia é sempre aquele emoji da cabeça a fritar. No confinamento é ser-se algo em modo catástrofe. É querer ser tudo bem para eles estarem bem, mas quando está tudo muito mal. É tentar desfilar com graciosidade num passarela de estilhaços de vidro. Não dá.
Sou tantas coisas e confinada sinto-me a ser má em tudo: mulher, mãe, profissional, amiga, pessoa. Uma pessoa acorda, existe e já está a fazer alguma merda mal, nem que seja estar em baixo porque como tenho tanto não posso, ânimo.
Tenho o pijama de dia e o pijama de noite. Tomo banho de manhã e visto umas leggings pretas, camisola e t-shirt: o pijama de dia. Chega a noite e ponho o pijama oficial. No dia seguinte repito. Aí uns 5 dias e vai tudo lavar. A verdade é que podia tomar banho e vestir o pijama de novo. Podia, mas isso era de quem não tem estrutura, eu tenho, bolas. Tenho um pijama de dia.
Falávamos de quando vamos sair, quando tivermos alta e o Gonçalo disse: «vou então tirar o pijama, não posso ir com esta roupa lá baixo». É que eles não têm pijama de dia. No início, ainda tentei, mas depois deixei-os estar sempre de pijama. Nós pensamos que é só roupa, mas impõe ritmo, traz lógica aos dias. Até os miúdos percebem. Sim, filho, quando formos lá baixo tiras o pijama.
Escrito em 22/11/2020. Dois meses depois li-o e pu-lo aqui porque ainda estou assim. 2020 é o ano que demora a passar, cresceu para 2021 que se prometia diferente e afinal é pior.
2020 é uma bomba em forma de ano. Sinto que ainda estou a fazer o luto do ano que ia ter, da vida que se me prometia. Admiro (e às vezes invejo ou, confesso, irrito-me com) as pessoas práticas que encaixaram em três tempos, resolveram-se e estão prontos para qualquer coisa. São implacáveis: não lhes adianta queixar, não lhes adianta chorar e não admitem quem questione o estado das coisas. Eu, que sempre fui assim eficiente em tragédias, que sempre deixei o leite derramado para ser chorado por outros enquanto saía para ir comprar mais, demoro-me na recuperação desta tragédia como nenhuma outra. Passo dias a pensar no 2020 que ia ter e almadiçoo a facilidade com que consigo criar uma narrativa alternativa em que tudo era simples, em que este ano era o que era. Recuso que me continuem a diminuir por isso, não aceito mais que me digam que dos fracos não reza história. É de fracos como eu que se faz a guerra, todos os dias assaltam-me pensamentos que questionam tudo isto: o efeito nas crianças, a ansiedade nos adultos, a falta que estar com amigos nos fazem, o medo de apanhar o bicho e a quantidade de vidas destruídas por uma economia enterrada. Mas questiono-me no meu canto, não alimento dúvidas de outrem e cumpro com o se me pedem (sem que tantas vezes o entenda). Dizem que as redes sociais nos salvam deste isolamento, eu às vezes acho que nos matam. As redes sociais são muita coisa, mas não são um espelho da realidade, pelo menos eu não acho.
Não há direito a estarmos tristes. Não é crítica, até porque frequentemente apanho-me na mesma armadilha, afinal é por amor que o fazemos: vejo que a tristeza é recebida sempre com ataques. É urgente combatê-la. Desejamos ânimo. Muitas vezes recordamos as comparações que nos põem sempre em lugar de privilégio, quase ingratos por oposição. Lembramos as coisas boas, como se os outros as tivessem esquecido. Dizemos piadas, sedentos de sorrisos e gargalhadas. Mas a tristeza não vai. A tristeza costuma ser imune a tamanhas façanhas.
Ninguém diz «eu sei, deixa a tristeza entrar». Não quero me julguem masoquista, má nas horas livres, sem empatia. Por isso não o digo também. E não partilho quando a tristeza me toca. Não quero receber ânimo, já sei que não se fica. Fecho a tristeza na minha casa, instalo-a no sofá da sala. Deixo-a entrar. Convido-a para um café. Pergunto-lhe «então, que te traz cá?» às vezes cansada de saber a resposta, outras com curiosidade genuína de quem se surpreendeu com a campainha. Mas deixo-a entrar porque mesmo quando lhe dou ânimo, quando tenho calma, quando lhe digo piadas, quando a enxuto com o bem que tenho e o bem que quero, ela entra e até faz mais mossa do quando a assumo, quando a desconstruo, quando lhe explico que em casas felizes há sempre dias sem luz.
Há uns tempos disseram-me, comentado o estado de desleixe em que esta casa se encontra, que o blogue não tinha passado pelo coronavírus. Não deixa de ser curioso eu ter escolhido finalmente atualizá-lo no dia em que obtive a confirmação que estou infetada com o dito.
2020 foi um ano de loucos e escrevi muito, mas desapareci daqui. No final do ano comecei a sentir uma vontade de não estar só no Instagram, local onde as minhas palavras encontraram abrigo nos últimos tempos, e voltar à base. Escrever sem limitação de caracteres e num registo que me diz mais, de diário ou, melhor, de confessionário.
Não tenho bem a certeza se vou cumprir este desejo e se vou mesmo escrever mais por aqui, é uma vontade, mas eu tenho mostrado não cumprir estes desejos pouco concretos e planeados.
Sei que me apetece e por isso para já é um plano.
Em relação ao bicho… estávamos já a cumprir isolamento profilático por contacto com positivo, fomos fazer o teste há uns dias e só hoje obtivemos o resultado: positivos (menos o Duarte que será certamente um falso negativo). Está quase tudo assintomático. Eu tive uma tosse ligeira, que já nem tenho. A Leonor teve uma diarreia violenta, mas hoje está completamente recuperada. O vírus teve mercê de nós e passou sem mossa maior. Mais uma para apontar na lista da sorte.
O confinamento é dor conhecida, angustia como já sabíamos, mas ao mesmo tempo revela-se menos duro. A mente já tem a estrutura encaixada e isso assusta tanto quanto apazigua. No geral, sinto-me tranquila, com acessos esporádicos de nervos. Estou a dosear o Twitter e cortei o Instagram e até ver isso está a ajudar-me a ter tempo para as outras coisas.
Perdi um pouco a vontade de ver séries e também filmes, o que não serve o propósito da minha lista de a ver para os Óscares. Pelo contrário, tenho lido muito. E tenho brincado com os miúdos e cozinhado para um regimento.
O Gonçalo disse «é isto o coronavírus»? Para nós, é. Felizmente.
Continuemos.
Convulsão febril. Já ouviram falar? Penso que a definição científica da coisa é f-o-d-a-s-e. Há dias saí de casa para ir às compras e deixei os miúdos com o pai e quando voltei ele tinha umas olheiras tão fundas que parecia ter envelhecido dez anos e a voz sumida. Eu estava no fórum na fila para pagar numa loja — que coisa tão idiotamente corriqueira de se estar a fazer quando se fica sem chão — e recebo uma chamada que me lembro de incluir «vem imediatamente» «mas ele está bem?» «vem, por favor». Não sabia que era possível correr a chorar. Uns infindáveis 20 minutos e muitos semáforos vermelhos depois, cheguei a casa e vi o que nunca se quer ver: as luzes do inem à nossa porta. O meu filho mais velho teve uma convulsão febril. Num momento estava ótimo, no seguinte inerte nos braços do pai, a espumar e roxo, sem respirar. É uma reação benigna e não deixa sequelas, mas aparece mascarada da personificação do pior medo dos pais. Está tudo bem, ele está ótimo, foi só um susto e uma noite no hospital e agora já levamos a tabuada estudada: acontece a uma % diminuta de crianças até aos 6 anos, é uma reação do cérebro ainda imaturo à subida abrupta da temp, 1/3 das crianças que faz pode repetir noutro episódio de febre e por isso há que estar preparado (sem criar pânico à febre). Ficou o receio de que se repita, a memória qual cicatriz de uma cirurgia, e também ficaram algumas certezas: não há nada como o medo de perder um filho [nada]; escolhi o homem ideal para ser pai dos meus filhos [mais uma vez, o meu herói]; a minha amiga C. é o mais próximo de anjo que conheci [foram tantas as coisas que fez por mim só neste dia, uma pessoa que tira tempo antes de dormir depois de ter feito urgência (a de trabalho mesmo e a em minha casa) para me mandar artigos sobre a matéria é mesmo especial]; os meus vizinhos são boas pessoas e estenderam-nos a mão quando mais precisávamos como quem cuida dos seus, vivo em Coimbra porque vivermos a metros da família que nunca nos falha faz a diferença e estranho mundo este em que um hambúrguer do Mac via Ubereats me chega mais rápido que o INEM.
Rico filho, para com estes sustos, eu quero chegar aos 80 anos e assim fica difícil.
Deixo as ligações que me foram enviadas pela pediatra sobre a matéria. São fidedignas, podem confiar. As recomendações que recebemos no hospital vão ao encontro destas (e foi receitado o medicamento referido para aplicação aquando de uma convulsão). É importante lembrar que cada caso é um caso e a opinião/avaliação médica é crucial. Eu não sou médica, não tenho QUALQUER formação na área da saúde, estou só a repassar informação que me deram e em que confio.
Fiz um papel com o resumo destas recomendações e com a nossa morada por extenso (e explicação) e coloquei num quadro à porta de casa. Parece exagero, mas a infelizmente já não é a primeira vez que precisamos de ligar para o INEM e na hora nem quem sabe bem a morada consegue dizê-la. Assim só temos de ler, além de que os miúdos podem estar com outra pessoa que não nós.
Outra coisa que fiz, por recomendação médica, foi criar o «kit convulsão» e espalhá-lo pelos sítios onde ele anda (escola, casa dos avós e mochila). Coloquei o medicamento a aplicar aquando da convulsão, um supositório Benuron e as referidas recomendações num pequeno envelope almofado.
Comprei termómetros novos e tenho dois de reserva porque o que tinha nem tinha pilhas (para verem como a febre era um não assunto cá em casa).
É o máximo de preparação que uma pessoa pode ter para uma coisa perfeitamente inesperada. É o que me acalma, não me acalmando nada.
Acho que todas as pessoas que passaram por isto percebem o nível de susto. A todos os que não passaram, espero que não o conheçam!
#1
O medo. Não vale a pena serem comichosos e vir falar de mães helicóptero e não deixar os miúdos viver que aviso já que não falo de ser chata, exagerada e cagufas. O mais difícil de ser mãe é o medo e não é medo pouco, é o pior, dos grandes. Eles nascem e nesse momento o nosso coração como órgão independente morre. Ele bate, mas só se outros baterem. Antes de ter filhos não tinha medo. Agora tenho medo que me morram. E temo-o tanto que nem me permito imaginá-lo, a minha mente é um sistema operativo em falência total com esse absurdo. Não há nada igual. A definição de puro terror é essa. Às vezes pergunto-me como vivem as mães com esse medo. Como acordam. Como adormecem. E depois lembro-me: fazem como eu, vivem com ele, ignoram-no, alimentam-no só na medida em que nos ajuda a tomar decisões e depois dizem-lhe que desapareça que temos muito que fazer. Mas está lá. E para mim é o mais difícil de ser mãe.
[às vezes estou a fazer uma coisa corriqueira e sem que o controle vejo o meu filho outra vez à porta da cozinha, roxo, sem respirar, engasgado na banana, e tremo das pernas, e apetece-me gritar e lembro-me de novo que foi um se, só um se, que nunca será é, mas o medo, já vos digo, o medo é pior de ser mãe]
#2
Depois do #1 tudo o resto é só o resto, nem parece merecer partilhar pódio. Há o pior e depois o resto. Mas continuando, acho que em segundo está ver irmãos a discutir. Já tive mordidelas muito feias, empurrões, pontapés, lançamento de objectos e insultos vários e são todos facas no meu coração. São comportamentos que sei ser até normais, sem frequência que preocupe e acho não podia pedir melhor relação entre os três, mas que há desentendimentos há e não há vez nenhuma que ainda que sem culpa não me sinta culpada, e mesmo sem ter falhado, não me sinta em falta. É uma merda. Nada sabe a bem, os dois lados são meus e eu sou dos dois, primeiro consolo ou repreendo? É ser mãe do agressor e do agredido. Dói a alma. Mais do que eles, tenho visto. E pronto, este é o dois.
#3
A três é a última ou a primeira das coisas que interessam mais ou menos: As noites. Já se sabe que a estas coisas não se faz publicidade, mas vou só adiantar que agora nem se está mal e adormecer então está perfeito, é não mexer. Mas este corpinho foi massacrado por noites em cima de noites em cima de noites dantescas, de torturar o mais rijo dos soldados. E as coisas que a gente vê quando fica a ver vermelho de sono, de raiva, de sono, de dor, de puro sono, de privação de não conseguir dar um passo sem que doa uma parte do corpo, o que a gente vê fica tatuado na alma. Ora um, ora outro, hoje é um que quer leite outro que que quer mimo e durante dias e dias fomos escravos do sono que nunca conseguíamos que fosse seguido. Tudo o resto é fácil perante isso. Fraldas? A sério? É a merda que vos assusta? Se fosse para dormir, até com uma fralda carregadinha de cocó ao lado eu dormia (e dormi). As birras? Também odeio, mas pronto, faz parte. Agora dar colo às 3h da manhã a um puto que está com medos depois de ter dado biberão e posto a arrotar outro, de pé há horas, sem dormir? Foda-se, foi tropa. Por isso é isso, não dormir.
E assim fica feito o mais difícil de ser mãe, até ver, por mim.
Publicidade: esta publicação relata a experiência feita a convite do Upon Lisbon.
Há quinze diasaceitei o convite da Upon Lisbon e fomos passar o fim-de-semana a Lisboa. Foimaravilhoso. Não fiquei nada arrependida de ter aceite a minha primeiraproposta comercial porque acho que me mantive fiel a mim mesma e é comhonestidade que vos falo bem da experiência: fomos mesmo bem recebidos epassámos uns excelentes dias.
O quarto — que na verdade é um apartamento — é enorme e traz todas as comodidades de que uma família numerosa necessita. Tinha dois quartos: um com casa de banho privativa onde ficaram os adultos e outro que albergou a criançada (o mais velho à lorde na enorme cama de casal e os gémeos nas camas de viagem que o hotel disponibilizou). A sala era muito espaçosa e tinha uma cozinha bem equipada: um frigorífico enorme (maior que o que tenho em casa), forno, micro-ondas, máquina de lavar a loiça e máquina de lavar a roupa — permite fazer refeições no apartamento e assim poupar uns trocos e também possibilita lavar roupa o que é uma segurança com crianças que parecem fazer questão de se sujar dois segundos depois de as vestirmos.
O nosso quarto eraespecialmente fixe porque tinha uma varanda enorme. Eu acho que como avisei quenão somos adeptos do Benfica — expliquei que, pelo contrário, o nosso sangue éazul e branco—, o hotel sabia que não fazíamos questão de ter vista para o Estádioda Luz e fez a amabilidade de nos colocar neste quarto sem vista, mas com umavaranda que me fez sonhar com este tipo de espaço em casa. Um luxo.
Fizemos as refeiçõestodas no hotel. O restaurante Dona Joaquina é, à semelhança do hotel, um espaçoque não é acriançado mas sabe receber crianças: não faltam cadeiras de refeiçãopara crianças, menu infantil e paciência e simpatia com os miúdos. Acreditemque conheço alguns espaços (sou uma romântica no que toca a saídas em família econtinuo a tentar) e sei que o normal é receberem-nos com uma simpatia obrigadade sorriso amarelo que diz «vocês fazem muito barulho e ocupam muito espaçopara o dinheiro que deixam cá». Ali não senti isso uma única vez. Pedimosdesculpa pelo chão que ficou cheio de arroz, pelos talheres que iam caindo,enfim, pelas crianças e a sua habitual desordem e fomos sempre brindados com umsorriso e uma piada. A cereja no topo do bolo é que a comida é mesmo boa. Aojantar comemos sempre pratos mais robustos e estavam ótimos, ao almoço atacámosnuns hambúrgueres e numas omeletes e mesmo comendo cá fora com vista para oestádio da Luz caiu-nos tudo muito bem.
O hotel tem uma salade brinquedos para os miúdos se entreterem e claro a piscina no rooftop émágica. A vista é linda, tinha visto fotos de outras pessoas lá no pôr-de-sol edescontei os filtros e photoshop, mas apercebi-me que não é exagero de insta. Opôr-de-sol vale a pena ali de cima e não tem nada de falso, é mesmo bonito. Apiscina é aquecida e quando faz mais frio o hotel fecha a cobertura para ficaragradável o que permite usufruir deste espaço em qualquer altura do ano.
Ainda a convite do hotel visitámos o Zoo de Lisboa e o Pilar 7 da Ponte 25 de Abril (ao qual fomos naqueles autocarros turísticos da Cityrama Gray Line) — os bilhetes para estas atividades podem ser adquiridos na receção do hotel o que é bastante prático. No caso do Zoo é notório que se poupa bastante tempo porque não é preciso trocar o voucher, apresenta-se logo à entrada e há uma fila diferente para quem já tem bilhete.
Aconselho mesmo, é um fim-de-semana bem passado e para nós que não vivemos em Lisboa faz todo o sentido passar lá uns dias e aproveitar todas aquelas coisas que não temos cá. Se vos tentei com o meu relato deixo-vos o meu código para 20% desconto que pode ser usado desde já e é válido para estadias de novembro a março: TRESANTESDOS3020
Obrigadaà Upon Lisbon pela estadia e parabéns pelo espaço ótimo que têm e pela simpatiada equipa. Não mudem.
É publicidade, mas é honesta, prometo.
I won't let you down.
Falei aqui e aqui da displasia da anca e da plagiocefalia/braquicefalia da Leonor. Chega-me muita gente ao blogue por causa destes dois temas (os posts são os mais lidos do blogue) e se até agora não me apetecia revisitar o tema porque senti que se terminou é deixá-lo terminado, atrás das costas, reponderei porque achar que pode ajudar muita gente que anda à procura de ler tudo o que consegue sobre isto (e também me facilita para responder a muitos que me perguntam e que não quero deixar sem resposta).
Como referi no post,optámos por colocar o capacete com a Dra. Paula Rodeia no Hospital Lusíadas emLisboa em Julho de 2018 com previsão de tratamento de 4 meses. A Leonor acaboudepois por tirar o capacete em final de Novembro, sendo que tivemos apenas aconsulta de alta em Dezembro.
O início da adaptação foi complicado, mas como três semanas antes tínhamos feito a adaptação ao arnês que foi muito mais dura, olhando para trás noto que nem demos importância ao capacete. Muitos dizem que nos custa mais a nós que a eles e francamente sempre me irritou esta teoria porque ela suava em bica e tinha um ar desesperado muitas das vezes em que lhe tirava o arnês e o capacete. Na verdade, a simultaneidade dos dois tratamentos não ajudou em nada: o arnês obrigava a utilizar uns collants cortados nas pernas o que lhe traziam muito calor e a impediam de suar pelas pernas. Quando colocou o capacete custou-lhe bastante regular esta questão do calor. A Dra. Paula indicou-nos na altura que muitos bebés suavam muito dos pés como compensação daquilo que não podiam expelir pela cabeça e, na verdade, a Leonor ficou privada deste método de autorregulação porque estava sempre com o arnês e os ditos collants o que pode não ter ajudado na adaptação do termostato.
Nós fomosextremamente rigorosos com o tempo de colocação dos aparelhos. Queríamos portudo ter muito sucesso em ambas as condições pelo que nunca vacilámos nashoras, nunca deixámos de pôr o capacete à noite (mesmo implicando não terdescanso, o que sucedeu muitas vezes). Um mês depois da colocação a Leonordesenvolveu um fungo na cabeça (normal com a utilização do capacete,proporcionado pela humidade e calor) e tivemos de retirar o capacete aí unsquatro dias. Pouco depois, voltou a acontecer. Estas questões atrasaram otratamento e também a constatação de mais resultados (que até então tinham sidonotórios).
Em Setembro, aLeonor deixou de usar o arnês e nós deixámos de contar o tempo para tirar ocapacete para não nos desiludirmos mais (pensámos que íamos tirar o arnês umpouco mais cedo do que depois acabou por ser e a semana final custou-nosimenso, a Leonor começou a ganhar muita habilidade em retirá-lo).
Estes últimos meses foram difíceis porque depois de tirar o arnês a miúda quis recuperar o tempo perdido em termos de movimentos e começou a tentar sentar-se, gatinhar, etc. e via-se que não se conseguia equilibrar decentemente por causa do peso do capacete. Paralelamente, os resultados já eram muito visíveis e a Leonor começava a ficar com muito cabelo o que aumentava a comichão e calor e o momento em que lhe púnhamos o capacete era cada vez mais difícil porque ela lutava contra aquilo. Ela ficou doente várias vezes em Outubro e fez febre pelo que lho tirámos várias vezes (não se pode colocar o capacete quando os bebés têm febre). Cada vez que tínhamos de recomeçar era horrível. Nesta altura, já estava desmotivada. Quinze dias antes da consulta que sabíamos que ia ser a final, eu sentia-me esgotada, sem forças para aquilo. Lembro-me do Pedro chegar várias vezes a casa e perguntar-me porque é que ela não tinha o capacete e eu dizer que não aguentava mais. A verdade é que depois dela ficar de ela fazer mais um episódio de febre, já em meados de Novembro, não lhe voltei a colocar o capacete. No dia da consulta estava muito apreensiva, mas a Dra. Paula confirmou que o desvio estava corrigido (praticamente, ou seja, aquilo que era possível corrigir) e que, não obstante o atraso ao que inicialmente previsto para fazer face às dificuldades que falei, tínhamos chegado ao fim e a Leonor não ia usar nem mais um segundo aquela bodega. Nós dissemos-lhe a verdade, que nos últimos dez dias ela pouco o tinha utilizado e ela disse que tínhamos tido um bom instinto.
Quando saíamos de lávinha uns anos mais nova. Estava farta daquilo, de ver a miúda lutar mesescontra aquilo, contra o arnês, contra tudo. Estava também farta de ter sempreum termo de comparação no irmão gémeo que já gatinhava, já se mexia e até já sequeria pôr em pé e perceber que ela acumulava dificuldades pelas coisas todasporque passou.
Apesar do cansaçotodo, sentia-me (e sinto-me) zero arrependida. Não foi uma decisão fácil. Comoreferi no post anterior, a utilização de ortoses cranianas para a correção daplagiocefalia/braquicefalia não é um método de tratamento que reúna consenso nacomunidade médica. É um tratamento dispendioso. Por tudo isto, pensámos sedeveríamos ou não avançar. Li muito sobre o assunto e vi muita coisa em gruposde facebook sobre a matéria. Muitos há que são da opinião de que passa com otempo ou que a osteopatia é a solução. Perante a opção de deixar que o tempodissesse que não passava e ver que a osteopatia não resultava, preferimosavançar até porque tínhamos uma janela de tempo para o fazer. Não nosarrependemos.
Este sucesso donosso caso e não arrependimento não mancha qualquer outro percurso que outrostenham feito com sucesso, simplesmente é o nosso. Eu não posso aconselharninguém a avançar ou não com isto, a única coisa que me leva a escrever isto éque com o relato da nossa experiência alguém se identifique e se sintaminimamente «aconchegado» de se saber acompanhado.
Nunca tivemosexpetativas de que a Leonor ficasse com a cabeça completamente redonda como oirmão tem (o Pedro diz que o Duarte é uma Lua Cheia porque ele é uma bolaperfeita ;)), sabíamos que ela teria sempre um desvio, mas notámos francasdiferenças e pelo menos na face já não se nota (antes de colocar o capacete, aLeonor tinha o desvio visível na linha dos olhos).
Uma última nota parafalar do Seguro de Saúde: o nosso seguro de saúde não cobriu NADA da colocaçãodo capacete, foi inteiramente suportada por nós. O Seguro tinha era protocolorelativo às consultas (ficavam a 15€/consulta, sendo que o preço sem seguro erade 80€/consulta) e fomos, no total, a 9 consultas (excluindo a da colocação quenão é cobrada).
A todos os que estãoa passar por isto, força, eu sei que às vezes não ajuda nada, mas há muito piore isto ultrapassa-se com perseverança. Eu sei que em parte moldou o feitiodela, e a experiência com os dois tratamento afetou muito o padrão de sono, masjá passou. Algures no futuro, estes cinco meses não vão representar nada emtermos de tempo. Até a gravidez foi maior :)
Atodos os que me perguntaram se ela era deficiente, se tinha problemas e que meaconselharam a não lhe tirar fotos com capacete sem sequer me conhecerem delado nenhum: vão à merda. Aprendam a lidar com a diferença. Isto não é nada emesmo assim senti na pele as dificuldades da diferença porque é muito vistoso.Não imagino o que determinadas famílias passam. A minha vénia a todos.